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Ao despertar de um cochilo vespertino, Pedro havia se deparado com algo estranho em seu teto. Não era nada comum uma mancha de bolor do tamanho de uma bola de basquete estar ali, incomodado com a mancha em seu novo apartamento, bem em cima de sua cama, se foi em busca de algo que pudesse arrancar enquanto ainda tivesse tempo. Fez sua pesquisa na internet e achou soluções malucas que prometem tirar fungos das paredes, visto que não possuía metade dos produtos, se dirigiu prontamente ao Hipermercado mais próximo. Estacionando seu carro, notou manchas de bolor também no banco do passageiro similares a do teto de seu quarto. Chegando na portaria, cumprimentou o Porteiro Marcos e estacionou em sua vaga. No elevador, de aço escovado e polido, notou uma coloração estranha. Manchas irregulares tomavam conta de uma região específica da cabine, incomodado, mandou uma mensagem a sindica do prédio sobre as machas que havia encontrado em seu teto  e no elevador, avisando-lhe para ter mais cuidado sobre a estrutura do prédio.  Chegando no hall, sentiu um cheiro esquisito e úmido, as luzes piscavam e estavam fracas... como se houvesse muito tempo que estavam ali. Ao andar, sentiu o chão sujo, um misto de terra e poeira. Quando estava para abrir a porta de seu apartamento, as luzes queimam, a maçaneta está estranhamente fria, quando tenta por a chave, ela entra emperrando. Segurando a maçaneta com uma mão e usando a força da outra com seu corpo para abrir a porta de seu apartamento, sente um cheiro forte. Com a ida ao supermercado, parecia que haviam passado décadas, o ecossistema úmido local havia abraçado toda a mobília da casa, as paredes estavam esverdeadas, o cheiro de mofo e umidade prevalecia em qualquer odor que pudesse estar presente ali. Ironicamente, Pedro pensa "É, parece que estes produtos não serão o suficiente para limpar todo esse mofo..." com um sorriso de canto, se pega espantado por não se assustar com as condições ali presentes, foi com passos lentos abrir a janela da sala. Estava emperrada, porém, com um pouco de força, conseguiu abrir e recebeu uma lufada de ar pela diferença de pressão em que ali estava. O dia estava gélido demais para ser um domingo de verão. Ao chegar perto de seu quarto, sente um crescente cheiro de putrescina e cadaverina, exitou, seu coração estava cada vez batendo mais forte, suas mãos estavam frias, a respiração cada vez pesava mais e mais, sentido o medo entrar em seu corpo, o pânico paralisou suas pernas. Com a cabeça tombada para baixo, começou a entender que a situação ali não era um sonho, nem uma alucinação como começara a acreditar pelo quadro que irrealidade que estava vendo. Dessa vez, reparou que a porta estava encostada... apoiando sua mão nela, a umidade pegajosa já não fazia mais diferença em seus dedos. Ao empurrar a porta, viu dois corpos deitados em sua cama... Aquilo era real? "Talvez ainda possa ser um sonho..." Sentiu o cheiro entrando cada vez mais forte em seus pulmões... "Não é real... não quero que seja... " Já conseguia distinguir os dois corpos. Um homem e uma mulher. Não queria olhar quem eram... tinha medo do que veria, medo de quem eram e do que aquilo poderia representar. Prendeu a respiração por não aguentar mais o cheiro, porém o cheiro não era nada comparado ao que viria, ao terror que passaria. Com os olhos cheios de lágrimas, arrependido e assutado, viu quem eram os corpos... Ele e Laura.  
 
Ao despertar de um cochilo vespertino, Pedro havia se deparado com algo estranho em seu teto. Não era nada comum uma mancha de bolor do tamanho de uma bola de basquete estar ali, incomodado com a mancha em seu novo apartamento, bem em cima de sua cama, se foi em busca de algo que pudesse arrancar enquanto ainda tivesse tempo. Fez sua pesquisa na internet e achou soluções malucas que prometem tirar fungos das paredes, visto que não possuía metade dos produtos, se dirigiu prontamente ao Hipermercado mais próximo. Estacionando seu carro, notou manchas de bolor também no banco do passageiro similares a do teto de seu quarto. Chegando na portaria, cumprimentou o Porteiro Marcos e estacionou em sua vaga. No elevador, de aço escovado e polido, notou uma coloração estranha. Manchas irregulares tomavam conta de uma região específica da cabine, incomodado, mandou uma mensagem a sindica do prédio sobre as machas que havia encontrado em seu teto  e no elevador, avisando-lhe para ter mais cuidado sobre a estrutura do prédio.  Chegando no hall, sentiu um cheiro esquisito e úmido, as luzes piscavam e estavam fracas... como se houvesse muito tempo que estavam ali. Ao andar, sentiu o chão sujo, um misto de terra e poeira. Quando estava para abrir a porta de seu apartamento, as luzes queimam, a maçaneta está estranhamente fria, quando tenta por a chave, ela entra emperrando. Segurando a maçaneta com uma mão e usando a força da outra com seu corpo para abrir a porta de seu apartamento, sente um cheiro forte. Com a ida ao supermercado, parecia que haviam passado décadas, o ecossistema úmido local havia abraçado toda a mobília da casa, as paredes estavam esverdeadas, o cheiro de mofo e umidade prevalecia em qualquer odor que pudesse estar presente ali. Ironicamente, Pedro pensa "É, parece que estes produtos não serão o suficiente para limpar todo esse mofo..." com um sorriso de canto, se pega espantado por não se assustar com as condições ali presentes, foi com passos lentos abrir a janela da sala. Estava emperrada, porém, com um pouco de força, conseguiu abrir e recebeu uma lufada de ar pela diferença de pressão em que ali estava. O dia estava gélido demais para ser um domingo de verão. Ao chegar perto de seu quarto, sente um crescente cheiro de putrescina e cadaverina, exitou, seu coração estava cada vez batendo mais forte, suas mãos estavam frias, a respiração cada vez pesava mais e mais, sentido o medo entrar em seu corpo, o pânico paralisou suas pernas. Com a cabeça tombada para baixo, começou a entender que a situação ali não era um sonho, nem uma alucinação como começara a acreditar pelo quadro que irrealidade que estava vendo. Dessa vez, reparou que a porta estava encostada... apoiando sua mão nela, a umidade pegajosa já não fazia mais diferença em seus dedos. Ao empurrar a porta, viu dois corpos deitados em sua cama... Aquilo era real? "Talvez ainda possa ser um sonho..." Sentiu o cheiro entrando cada vez mais forte em seus pulmões... "Não é real... não quero que seja... " Já conseguia distinguir os dois corpos. Um homem e uma mulher. Não queria olhar quem eram... tinha medo do que veria, medo de quem eram e do que aquilo poderia representar. Prendeu a respiração por não aguentar mais o cheiro, porém o cheiro não era nada comparado ao que viria, ao terror que passaria. Com os olhos cheios de lágrimas, arrependido e assutado, viu quem eram os corpos... Ele e Laura.  
  
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Pedro 65
  
* Ortografia e gramática revisada por [[Carolina Salvatierra Neves|Clara]]
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Ofegante, Pedro não via mais nada, não sentia mais nada. "ONDE EU TÔ?"... Pânico tomava conta do seu corpo, o frio entrava como finas agulhas nas mãos e nos pés. Levantou, desnorteado, quando seus olhos começaram a ser acostumar com a penumbra da Lua, ouviu apenas os grilos. Sentia que não estava sozinho, e também sentia que sua companhia não era boa. Ao conseguir distinguir o que estava a sua volta, viu algumas árvores espalhadas ao longo do terreno. Não estava em qualquer lugar que conhecia. Mirando os olhos no horizonte, viu uma cadeia de montanhas enevadas, pelos seus conhecimentos de geografia, conseguiu fazer um breve mapeamento, sabia que estava em algum lugar muito distante de São Paulo, ele estava em alguma tundra, em algum lugar no mundo. Desnorteado, olhou ao seu redor, achou seus tênis jogados, calçando-os rapidamente pelo que estava desacostumado, começou a caminhar, guiando-se pelos astros, foi andando para o norte. Após apenas 20 minutos de caminhada, se sentiu sortudo por avistar um casebre, batendo na porta, não encontrou ninguém a vista, foi se aproximando, era feita de madeira, estavam velhas, assim como tudo ali. Avistou um machado enferrujado, estranhou por alguns instantes e foi bater na porta. Chamando por alguém que morasse ali, não houve resposta, empurrando a porta, viu a bandeira do Chile pendurada a uma parede, uma cama velha, uma mesa, uma cadeira e uma simples lareira e nada mais. Pedro estava confuso, "Como diabos eu vim parar na porra do Chile, nesse fim de mundo?". Deitou na cama e se cobriu com os farrapos que achou. Não demorou muito para o nascer do sol, que lhe acordou com seus raios nos olhos. Sentado, ficou triste por não estar em sua casa e não ter sido um sonho, mas feliz por não ser um lugar novo. Vasculhando o restante de folhas, viu uma folha de calendário velha e seca, avistando a data, ficou sem ar, suas mãos tremiam de frio e medo, confuso pelo que aconteceu, com medo de não poder mais ver sua irmã, sua mãe e sua amada Luana. "Não pode ser... Ontem era 18 de maio de 2021... Como pode já ter passado julho de 2037?"
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Pedro 65
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Passado o medo que sentiu, conseguiu pensar com clareza, "OK, tudo isso pode ser uma grande pegadinha, alguém pode ter me raptado, me levado a este fim de mundo e usado essa cabana para me assustar, assim como tudo que está aqui!... OK... Controle-se... Pensa com calma porra..." Começando a se assustar novamente, saiu da cabana e foi caminhar em volta dela, sua garganta apertava de sede, seus olhos ardiam e sua cabeça doía pela falta de água que seu organismo reclamava. "Merda, a quanto tempo eu to aqui?... Eu preciso muito de um pouco d'água." Rapidamente, viu um poço e andou o mais rápido que pode, chegando lá, seu corpo já doía pelo frio que sentia, conseguindo ver que havia água dentro dele "Glória, ainda bem que não está seco... Cadêeeeee o baldeeeee?" Exclamou sua última frase entredentes, quando vou o balde logo atrás do poço, com uma velha porém ainda firme corda. Após ter bebido o máximo de água que conseguiu sentado ao sol para se aquecer, admirou pela primeira vez a paisagem que tinha ali. "Eu até viveria aqui depois de me formar... Se pegasse internet, eu viveria tranquilamente aqui com a Luana, se ela quisesse... Será que ela está bem? Eu preciso voltar por ela... merda, eu tinha umas listas pra entregar amanhã... que se fodam as listas, se eu entrar naquele curso, minha vida estará feita, é só o primeiro semestre, ou era, não sei..." Com sua crescente preocupação com a faculdade e Luana, esquecera que estava com fome, até sua barriga gritar mais alto que qualquer pensamento em sua mente. Andou até encontrar uma estrada simples, seguindo as placas que levavam para Chile Chico, talvez uma cidade pequena interiorana no Chile, na qual nunca ouvira falar.
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Na esperança de algum veículo passar para lhe dar carona, caminhou até o sol poer. Sem caronas ou qualquer ajuda chegou a Chile Chico, notou que estava vazia, nem haviam luzes, estava tudo escuro, o pó cobria carros, bancos, casas... Tudo parecia abandonado, qualquer vida humana que tivesse ali, estava resumida a um único visitante, Pedro. Sentindo isso, porém não só isso, sentiu que estava sozinho, não havia qualquer conforto ou alguém que pudesse lhe ajudar em muitos quilômetros, pela primeira vez ele teria que cuidar de si sozinho. Arrombando uma casa mais aconchegante, sentiu um cheiro árido e seco, qualquer partícula de mofo que pudera existir, havia morrido a uns bons anos. Foi andando pela cozinha vasculhando os armários por qualquer resquício de comida, "Que legal, tudo aqui está vencido a pelo menos 10 anos... talvez não seja uma pegadinha... talvez eu esteja em coma alucinando... é, pode ser isso, pode ser que eu esteja com fome porquê alguma enfermeira deve ter esquecido de me alimentar..." Achando algumas latas de alimento e conserva. Procurando lenha na parte de trás da casa, para alimentar o fogo do fogão rudimentar da casa e seu aquecedor, achou uma horta abandonada de batatas. Feliz pelo achado, ferveu suas latas e as batatas.... a comida nas latas era intragável, porém estavam boas para consumo, as batatas foram seu deleite. Colocou um colchão em frente a lareira com diversas cobertas, dormiu profundo em frente a lareira.
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"rrrrrrAh, rrrrrrAh, rrrrrrAh, rrrrrrAh"
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"Mas que som é esse?" ainda zonzo pelo sono, Pedro foi acordado com diversos barulhos, uma verdadeira algazarra. Levantando com as vistas embaçadas, abriu a cortina e avistou centenas de pinguins andando pelas ruas como um fluxo migrante. Após seus olhos acostumarem com as luzes, tomou um susto, caindo para trás, com o que seus olhos viram... Aquilo não era normal, nenhum deles era... Nada do que estava acontecendo era normal.
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Pedro 1
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Saindo de seu apartamento desesperado, ligando para sua mãe, não obteve êxito, não havia mais sinal no ar, em qualquer lugar que fosse, foi correndo para o carro, notou uma camada grossa de sujeira por cima, ao tentar ligar, a bateria não possuía mais carga. "Mas ele estava funcionando a menos de uma hora atrás... como? o que está acontecendo?..." Caindo de lágrimas ao volante, se sentiu só, não via ninguém nas ruas, a maior metrópole do Brasil estava quieta, morta. Desceu do carro, caminhando pelas ruas que nem tivera a chance de tornar familiar, voltou para o apartamento pelas escadas escuras, pegou uma mochila, colocou alguns itens que julgou necessário, achou uma bicicleta que estava ainda usável dentro do estacionamento e saiu. Foi até o endereço de sua mãe, chegando lá, entrou pela janela... Quando teve um choque, a mulher deitada ali estava completamente desfigurada, sua pele parecia ter derretido e secado como estava, com marcas de bolhas e sofrimento em seu rosto, caiu de joelhos, chorando... já não entendia mais nada e não sabia se iria querer. "Toc toc toc". Assustado, olhou pela janela que fechara após entrar, se ergueu lentamente e abriu a cortina, com medo do que seria, um pombo. Paralisado, não conseguia distinguir, não era um pombo comum, haviam 4 asas nele, e um bico extra no peito, sua plumagem ainda era cinza, mas havia um terceiro olho ao lado esquerdo. Ainda imóvel, aquela ave tentava entrar, ela era grande o suficiente para engolir um gato, fechando a cortina, Pedro correu para a cozinha, arranjar alguma faca para se defender, pegou uma frigideira grande em que sua mãe cozinhava, emendou a faca a um cabo de vassoura com fita isolante. Pegou um capacete no seu antigo quarto, e colocou a jaqueta de couro do seu falecido pai. "Eu não sei o que está havendo, mas não vai ser hoje que eu vou morrer... " Com medo de não ser a única pomba mutante que ele vira, montou uma montanha de bugigangas no fundo, e quando estava na frente da casa,  puxou uma corda que derrubou tudo, fazendo um estardalhaço, ouviu um bater de asas no fundo, saiu furtivamente pela frente, pegou sua bicicleta e zarpou para seu apartamento. "Não há mais nada que possa ser feito, eu preciso entender o que está havendo aqui..." Passou numa mercado pelo caminho, os produtos estavam iguais a muito tempo, os orgânicos só deixaram um rastro de que algum dia ali estiveram, para a sorte de Pedro, todos os alimentos enlatados estavam minimamente conservados. Encheu sua mochila com diversos deles, pegou álcool, itens de higiene e tudo que julgou necessário para alguns dias.
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Chegando no hall de seu andar, exitou em abrir a porta... "Eu não quero ver aquilo... nem lidar com isso tão cedo... acho que terei todo o tempo do mundo se não acontecer nada comigo....", decidindo assim abrir a porta do seu apartamento vizinho, onde morava Carla, uma jovem com quem nunca teve tanto contato. Pela alegria de Pedro, não havia ninguém no apartamento, vivo ou morto. Sentou no sofá, coberto por uma capa plástica "Coisa de velho por uma capa plástica no sofá... Olha só, ela colocou uma capa plástica em quase tudo... Essa garota era doida ou era o Benjamin Button." Pensou consigo mesmo rindo da própria piada..." Quando voltou a realidade, lembrou das atrocidades que vira, sentiu o peso no peito de perder tudo tão repentinamente, já não caiu mais nenhuma lágrima. Queria somente dar um funeral digno a quem amava e entender o que havia acontecido...
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* Ortografia e gramática revisada por Clara

Edição atual tal como às 17h49min de 12 de abril de 2022

Pedroverso

Pedro 1

Ao despertar de um cochilo vespertino, Pedro havia se deparado com algo estranho em seu teto. Não era nada comum uma mancha de bolor do tamanho de uma bola de basquete estar ali, incomodado com a mancha em seu novo apartamento, bem em cima de sua cama, se foi em busca de algo que pudesse arrancar enquanto ainda tivesse tempo. Fez sua pesquisa na internet e achou soluções malucas que prometem tirar fungos das paredes, visto que não possuía metade dos produtos, se dirigiu prontamente ao Hipermercado mais próximo. Estacionando seu carro, notou manchas de bolor também no banco do passageiro similares a do teto de seu quarto. Chegando na portaria, cumprimentou o Porteiro Marcos e estacionou em sua vaga. No elevador, de aço escovado e polido, notou uma coloração estranha. Manchas irregulares tomavam conta de uma região específica da cabine, incomodado, mandou uma mensagem a sindica do prédio sobre as machas que havia encontrado em seu teto e no elevador, avisando-lhe para ter mais cuidado sobre a estrutura do prédio. Chegando no hall, sentiu um cheiro esquisito e úmido, as luzes piscavam e estavam fracas... como se houvesse muito tempo que estavam ali. Ao andar, sentiu o chão sujo, um misto de terra e poeira. Quando estava para abrir a porta de seu apartamento, as luzes queimam, a maçaneta está estranhamente fria, quando tenta por a chave, ela entra emperrando. Segurando a maçaneta com uma mão e usando a força da outra com seu corpo para abrir a porta de seu apartamento, sente um cheiro forte. Com a ida ao supermercado, parecia que haviam passado décadas, o ecossistema úmido local havia abraçado toda a mobília da casa, as paredes estavam esverdeadas, o cheiro de mofo e umidade prevalecia em qualquer odor que pudesse estar presente ali. Ironicamente, Pedro pensa "É, parece que estes produtos não serão o suficiente para limpar todo esse mofo..." com um sorriso de canto, se pega espantado por não se assustar com as condições ali presentes, foi com passos lentos abrir a janela da sala. Estava emperrada, porém, com um pouco de força, conseguiu abrir e recebeu uma lufada de ar pela diferença de pressão em que ali estava. O dia estava gélido demais para ser um domingo de verão. Ao chegar perto de seu quarto, sente um crescente cheiro de putrescina e cadaverina, exitou, seu coração estava cada vez batendo mais forte, suas mãos estavam frias, a respiração cada vez pesava mais e mais, sentido o medo entrar em seu corpo, o pânico paralisou suas pernas. Com a cabeça tombada para baixo, começou a entender que a situação ali não era um sonho, nem uma alucinação como começara a acreditar pelo quadro que irrealidade que estava vendo. Dessa vez, reparou que a porta estava encostada... apoiando sua mão nela, a umidade pegajosa já não fazia mais diferença em seus dedos. Ao empurrar a porta, viu dois corpos deitados em sua cama... Aquilo era real? "Talvez ainda possa ser um sonho..." Sentiu o cheiro entrando cada vez mais forte em seus pulmões... "Não é real... não quero que seja... " Já conseguia distinguir os dois corpos. Um homem e uma mulher. Não queria olhar quem eram... tinha medo do que veria, medo de quem eram e do que aquilo poderia representar. Prendeu a respiração por não aguentar mais o cheiro, porém o cheiro não era nada comparado ao que viria, ao terror que passaria. Com os olhos cheios de lágrimas, arrependido e assutado, viu quem eram os corpos... Ele e Laura.

Pedro 65

Ofegante, Pedro não via mais nada, não sentia mais nada. "ONDE EU TÔ?"... Pânico tomava conta do seu corpo, o frio entrava como finas agulhas nas mãos e nos pés. Levantou, desnorteado, quando seus olhos começaram a ser acostumar com a penumbra da Lua, ouviu apenas os grilos. Sentia que não estava sozinho, e também sentia que sua companhia não era boa. Ao conseguir distinguir o que estava a sua volta, viu algumas árvores espalhadas ao longo do terreno. Não estava em qualquer lugar que conhecia. Mirando os olhos no horizonte, viu uma cadeia de montanhas enevadas, pelos seus conhecimentos de geografia, conseguiu fazer um breve mapeamento, sabia que estava em algum lugar muito distante de São Paulo, ele estava em alguma tundra, em algum lugar no mundo. Desnorteado, olhou ao seu redor, achou seus tênis jogados, calçando-os rapidamente pelo que estava desacostumado, começou a caminhar, guiando-se pelos astros, foi andando para o norte. Após apenas 20 minutos de caminhada, se sentiu sortudo por avistar um casebre, batendo na porta, não encontrou ninguém a vista, foi se aproximando, era feita de madeira, estavam velhas, assim como tudo ali. Avistou um machado enferrujado, estranhou por alguns instantes e foi bater na porta. Chamando por alguém que morasse ali, não houve resposta, empurrando a porta, viu a bandeira do Chile pendurada a uma parede, uma cama velha, uma mesa, uma cadeira e uma simples lareira e nada mais. Pedro estava confuso, "Como diabos eu vim parar na porra do Chile, nesse fim de mundo?". Deitou na cama e se cobriu com os farrapos que achou. Não demorou muito para o nascer do sol, que lhe acordou com seus raios nos olhos. Sentado, ficou triste por não estar em sua casa e não ter sido um sonho, mas feliz por não ser um lugar novo. Vasculhando o restante de folhas, viu uma folha de calendário velha e seca, avistando a data, ficou sem ar, suas mãos tremiam de frio e medo, confuso pelo que aconteceu, com medo de não poder mais ver sua irmã, sua mãe e sua amada Luana. "Não pode ser... Ontem era 18 de maio de 2021... Como pode já ter passado julho de 2037?"


Pedro 65

Passado o medo que sentiu, conseguiu pensar com clareza, "OK, tudo isso pode ser uma grande pegadinha, alguém pode ter me raptado, me levado a este fim de mundo e usado essa cabana para me assustar, assim como tudo que está aqui!... OK... Controle-se... Pensa com calma porra..." Começando a se assustar novamente, saiu da cabana e foi caminhar em volta dela, sua garganta apertava de sede, seus olhos ardiam e sua cabeça doía pela falta de água que seu organismo reclamava. "Merda, a quanto tempo eu to aqui?... Eu preciso muito de um pouco d'água." Rapidamente, viu um poço e andou o mais rápido que pode, chegando lá, seu corpo já doía pelo frio que sentia, conseguindo ver que havia água dentro dele "Glória, ainda bem que não está seco... Cadêeeeee o baldeeeee?" Exclamou sua última frase entredentes, quando vou o balde logo atrás do poço, com uma velha porém ainda firme corda. Após ter bebido o máximo de água que conseguiu sentado ao sol para se aquecer, admirou pela primeira vez a paisagem que tinha ali. "Eu até viveria aqui depois de me formar... Se pegasse internet, eu viveria tranquilamente aqui com a Luana, se ela quisesse... Será que ela está bem? Eu preciso voltar por ela... merda, eu tinha umas listas pra entregar amanhã... que se fodam as listas, se eu entrar naquele curso, minha vida estará feita, é só o primeiro semestre, ou era, não sei..." Com sua crescente preocupação com a faculdade e Luana, esquecera que estava com fome, até sua barriga gritar mais alto que qualquer pensamento em sua mente. Andou até encontrar uma estrada simples, seguindo as placas que levavam para Chile Chico, talvez uma cidade pequena interiorana no Chile, na qual nunca ouvira falar. Na esperança de algum veículo passar para lhe dar carona, caminhou até o sol poer. Sem caronas ou qualquer ajuda chegou a Chile Chico, notou que estava vazia, nem haviam luzes, estava tudo escuro, o pó cobria carros, bancos, casas... Tudo parecia abandonado, qualquer vida humana que tivesse ali, estava resumida a um único visitante, Pedro. Sentindo isso, porém não só isso, sentiu que estava sozinho, não havia qualquer conforto ou alguém que pudesse lhe ajudar em muitos quilômetros, pela primeira vez ele teria que cuidar de si sozinho. Arrombando uma casa mais aconchegante, sentiu um cheiro árido e seco, qualquer partícula de mofo que pudera existir, havia morrido a uns bons anos. Foi andando pela cozinha vasculhando os armários por qualquer resquício de comida, "Que legal, tudo aqui está vencido a pelo menos 10 anos... talvez não seja uma pegadinha... talvez eu esteja em coma alucinando... é, pode ser isso, pode ser que eu esteja com fome porquê alguma enfermeira deve ter esquecido de me alimentar..." Achando algumas latas de alimento e conserva. Procurando lenha na parte de trás da casa, para alimentar o fogo do fogão rudimentar da casa e seu aquecedor, achou uma horta abandonada de batatas. Feliz pelo achado, ferveu suas latas e as batatas.... a comida nas latas era intragável, porém estavam boas para consumo, as batatas foram seu deleite. Colocou um colchão em frente a lareira com diversas cobertas, dormiu profundo em frente a lareira. "rrrrrrAh, rrrrrrAh, rrrrrrAh, rrrrrrAh" "Mas que som é esse?" ainda zonzo pelo sono, Pedro foi acordado com diversos barulhos, uma verdadeira algazarra. Levantando com as vistas embaçadas, abriu a cortina e avistou centenas de pinguins andando pelas ruas como um fluxo migrante. Após seus olhos acostumarem com as luzes, tomou um susto, caindo para trás, com o que seus olhos viram... Aquilo não era normal, nenhum deles era... Nada do que estava acontecendo era normal.

Pedro 1

Saindo de seu apartamento desesperado, ligando para sua mãe, não obteve êxito, não havia mais sinal no ar, em qualquer lugar que fosse, foi correndo para o carro, notou uma camada grossa de sujeira por cima, ao tentar ligar, a bateria não possuía mais carga. "Mas ele estava funcionando a menos de uma hora atrás... como? o que está acontecendo?..." Caindo de lágrimas ao volante, se sentiu só, não via ninguém nas ruas, a maior metrópole do Brasil estava quieta, morta. Desceu do carro, caminhando pelas ruas que nem tivera a chance de tornar familiar, voltou para o apartamento pelas escadas escuras, pegou uma mochila, colocou alguns itens que julgou necessário, achou uma bicicleta que estava ainda usável dentro do estacionamento e saiu. Foi até o endereço de sua mãe, chegando lá, entrou pela janela... Quando teve um choque, a mulher deitada ali estava completamente desfigurada, sua pele parecia ter derretido e secado como estava, com marcas de bolhas e sofrimento em seu rosto, caiu de joelhos, chorando... já não entendia mais nada e não sabia se iria querer. "Toc toc toc". Assustado, olhou pela janela que fechara após entrar, se ergueu lentamente e abriu a cortina, com medo do que seria, um pombo. Paralisado, não conseguia distinguir, não era um pombo comum, haviam 4 asas nele, e um bico extra no peito, sua plumagem ainda era cinza, mas havia um terceiro olho ao lado esquerdo. Ainda imóvel, aquela ave tentava entrar, ela era grande o suficiente para engolir um gato, fechando a cortina, Pedro correu para a cozinha, arranjar alguma faca para se defender, pegou uma frigideira grande em que sua mãe cozinhava, emendou a faca a um cabo de vassoura com fita isolante. Pegou um capacete no seu antigo quarto, e colocou a jaqueta de couro do seu falecido pai. "Eu não sei o que está havendo, mas não vai ser hoje que eu vou morrer... " Com medo de não ser a única pomba mutante que ele vira, montou uma montanha de bugigangas no fundo, e quando estava na frente da casa, puxou uma corda que derrubou tudo, fazendo um estardalhaço, ouviu um bater de asas no fundo, saiu furtivamente pela frente, pegou sua bicicleta e zarpou para seu apartamento. "Não há mais nada que possa ser feito, eu preciso entender o que está havendo aqui..." Passou numa mercado pelo caminho, os produtos estavam iguais a muito tempo, os orgânicos só deixaram um rastro de que algum dia ali estiveram, para a sorte de Pedro, todos os alimentos enlatados estavam minimamente conservados. Encheu sua mochila com diversos deles, pegou álcool, itens de higiene e tudo que julgou necessário para alguns dias. Chegando no hall de seu andar, exitou em abrir a porta... "Eu não quero ver aquilo... nem lidar com isso tão cedo... acho que terei todo o tempo do mundo se não acontecer nada comigo....", decidindo assim abrir a porta do seu apartamento vizinho, onde morava Carla, uma jovem com quem nunca teve tanto contato. Pela alegria de Pedro, não havia ninguém no apartamento, vivo ou morto. Sentou no sofá, coberto por uma capa plástica "Coisa de velho por uma capa plástica no sofá... Olha só, ela colocou uma capa plástica em quase tudo... Essa garota era doida ou era o Benjamin Button." Pensou consigo mesmo rindo da própria piada..." Quando voltou a realidade, lembrou das atrocidades que vira, sentiu o peso no peito de perder tudo tão repentinamente, já não caiu mais nenhuma lágrima. Queria somente dar um funeral digno a quem amava e entender o que havia acontecido...


  • Ortografia e gramática revisada por Clara